segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

Jesusalém ≎ Mia Couto



Não há ninguém que escreva como Mia Couto, eu confesso e admito que não devo conseguir entender metade da profundidade que este grande escritor coloca nas suas histórias. Talvez porque me falta viver muito, ou talvez porque não sinto o mágico continente africano da forma como ele o sente. Este cenário que se repete nos seus livros e que nos prende à terra com a sua força, a sua poeira, o seu calor, a sua exuberância e a sua indescritível beleza também faz as pessoas que vivem nele.

No entanto, reconheci em Jesusalém o abismo que nos visita (a todos) em algum momento da vida. A forma como podemos mascarar o sofrimento e deixar de viver para não sofrer. Jesusalém é esse sítio desencantado, onde não se sofre para não se viver, onde se espera que Deus entre e peça desculpa.

Eu não gosto de histórias tristes ou pelo menos de histórias sem esperança, e se gosto desta história, é porque os apontamentos de luz iluminam tudo o resto.

“De súbito me golpeou uma imensa saudade de Noci. Talvez vá ter com ela mais cedo do que pensava. A ternura daquela mulher me confirmava que meu pai estava errado: o mundo não morreu. Afinal o mundo nunca chegou a nascer. Quem sabe eu aprenda, no afinado silêncio dos braços de Noci, a encontrar a minha mãe caminhando por um infinito descampado antes de chegar à última árvore.”


285 páginas
Caminho

Nenhum comentário:

Postar um comentário