domingo, 15 de janeiro de 2017

admirável mundo novo X Aldous Huxley

Porque a paixão pelos livros não é só minha e não sou só eu que os consigo descrever…
Porque li este livro há muitos anos e embora tenha adorado sinto que não faria o comentário ideal…
Porque acho que a Rita o conseguiu fazer muito bem…
Mas acima de tudo porque:
é especial quando aparecem laços de onde menos se espera…
é fantástico quando não se deixam morrer…”

By Rita Viegas:
Vivemos num modo de procura exaustivo. Procuramos alegria, prazer, conforto, felicidade e acima de tudo, fugir ou abstrairmo-nos da dor. Em Admirável Mundo Novo, parece-me, Aldous Huxley dá-nos uma lição sobre quão absurda pode ser uma sociedade que satisfaça ilimitada e facilmente toda essa procura. Cria-se a sociedade perfeita, onde desgostos amorosos são substituídos por relações desapegadas, sempre ao dispor. Qualquer pensamento menos alegre, de dúvida ou inquietação é silenciado por um ou dois comprimidos de soma – “todas as vantagens do Cristianismo e do álcool; nenhum de seus inconvenientes. A arte é manufaturada exaustivamente para proporcionar nos cinco sentidos as exatas sensações que tanto procuramos, deslumbrando-nos com o cinema sensorial. Sentimentos generalizados de paz, aceitação e pertença dominam, depois de injetados repetidamente durante o sono, no processo de condicionamento de cada individuo. E satisfeitos a todos os níveis, esperava-se, tudo estaria exatamente bem para todos os membros dessa sociedade. 
Mas com toda a sua mestria e ironia Huxley leva-nos numa viagem de desconstrução dessa utopia, mostrando-nos o quão absurdo é acreditar que dispor de toda essa fácil e ilimitada felicidade é condição suficiente para que todos sejam completos.

É este género de ideias que poderia facilmente descondicionar os espíritos menos solidamente fixados entre as classes superiores, que poderia fazê-los perder a fé na felicidade como supremo bem e fazê-los acreditar, ao invés disso, que o fim está em qualquer parte para além, em qualquer parte fora da esfera humana presente, que o objetivo da vida não é a manutenção do bem-estar, mas sim um certo reforço, um certo refinamento da consciência, algum aumento do saber... Coisa que - pensou o Administrador – até pode muito bem ser verdade, mas é inadmissível nas circunstâncias atuais. Pegou de novo na caneta e sob as palavras A não publicar riscou um segundo traço, mais grosso, mais negro que o primeiro. Depois suspirou:
«Como isto seria divertido se não fosse obrigado a pensar na felicidade!»
É nos mostrado como esta fácil felicidade não só é insuficiente para nos satisfazer, como não pode ser comparada com a idealização de felicidade que nos fez iniciar a procura em primeiro lugar.

A felicidade real sempre parece bastante sórdida em comparação com as supercompensações do sofrimento. E, por certo, a estabilidade não é, nem de longe, tão espetacular como a instabilidade. E o fato de se estar satisfeito nada tem da fascinação de uma boa luta contra a desgraça, nada do pitoresco de um combate contra a tentação, ou de uma derrota fatal sob os golpes da paixão ou da dúvida. A felicidade nunca é grandiosa.

Um livro sempre atual, se não cada vez mais, num mundo de tantas distrações e ilusões, que nos leva numa interessante reflexão e a questionar se aquilo que somos também nós condicionados a procurar será realmente tudo aquilo que precisamos.

320 páginas
Antigona






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